sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Terrorismo: Bin Sabbah, o homem que inspirou Bin Laden

Fonte: HISTÓRIA VIVA - Edição Nº 7 - maio de 2004

O precursor de Osama bin Laden viveu no século XI e criou os comandos suicidas da seita Assassinos, uma ramificação do ismaelismo que atuou no Irã, na Síria e no Iraque.

Os seguidores de Bin Sabbah - que se intitulava a sétima encarnação do Imã Ismael - eram homens dispostos a obedecê-lo cegamente, aceitando até mesmo o sacrifício da própria vida.

"Eu farei todo o Oriente tremer!"... No dia 4 de setembro de 1090, quando Hassan bin Sabbah Homairi proferiu sua ameaça, acabava de conquistar sua mais importante vitória. A fortaleza de Alamut, que ele cobiçava havia anos, estava em suas mãos, enfim. Essa posição estratégica, chamada de "fortaleza dos abutres", estava no coração das montanhas Elbourz, a 1.800 metros de altitude, no noroeste do Irã.

Dominando três vales férteis, o local era o centro de uma rede de comunicações que conduzia, principalmente, a Teerã. Hassan bin Sabbah usou a mesma operação já testada com sucesso ee fato, a melhor maneira de aterrorizar a vítima era deixá-la de sobreaviso. Assim, o cronista Djoueïny contou que Hassan bin Sabbah, ao perceber que um sultão estava decidido a proteger as caravanas de suas investidas e que organizava um exército para combatê-lo, corrompia membros da corte, em particular um dos eunucos.

"Subornado pelo dinheiro, o eunuco é encarregado de fixar um punhal ao lado do travesseiro do sultão enquanto este dorme e de depositar uma carta nas proximidades. Quando o sultão acorda, ele vê o punhal e lê a carta: 'Se eu não te quisesse bem, esta lâmina estaria em teu peito e não em tua cama. Não recuses minhas ofertas, ou te farei mal'. Aterrorizado, o sultão decidia deixar que o grande senhor atacasse as caravanas. Entre a sua vida e a sua fortuna, o soberano fazia sua escolha.

Outros não ousavam nem obedecer nem desobedecer. Como o cádi que, intimado a abandonar sua fortaleza, decidiu destruí-la. Foi a única solução que ele encontrou para permanecer fiel ao seu sultão e não contrariar as ordens do terrorista.
Foi nesse Oriente Médio ameaçado pelos Assassinos que desembarcam os cruzados vindos da Europa cristã. O objetivo deles era recuperar Jerusalém, a cidade santa. Não é o caso de refazer, aqui, o percurso das oito cruzadas que se desenrolam entre 1096 e 1270. Mas o que chamaríamos hoje de "operações conjuntas" não perturbou em nada a política terrorista de Bin Sabbah.

Em várias ocasiões, os cruzados negociaram até mesmo a sua neutralidade. A cada um a sua guerra santa. Quando Bin Sabbah morreu, em 1124, era tempo da Segunda Cruzada e as tropas cristãs haviam fundado o reino latino de Jerusalém, o principado de Antióquia, os condados de Edessa e de Trípoli.

Um de seus filhos, Buzourg Umid, tomou o comando da seita e o nome do pai. Foi o início da lenda do Velho da Montanha. Ignorando a morte de Hassan bin Sabbah pai, seus adversários pensavam que o chefe dos Assassinos era imortal. Tal pai, tal filho: as rapinas e os atentados aos dignitários se sucediam: dois vizires, dois califas, um prefeito, um governador, um mufti feneciam sob o punhal dos assassinos.

Os aliados objetivos


Buzourg morreu em 1138, mas o fim do terror ainda estava longe. Muhammad, neto de Hassan pai e filho de Buzourg, tornou-se chefe da seita. Seu "reinado" de 23 anos viu a morte de sultãos, cádis, vizires, outros califas, e até mesmo um primeiro príncipe cristão, o conde Raymond II, de Trípoli, em 1150. A dinastia e a lenda do Velho da Montanha perpetuaram-se em 1161 com Qadal al-Dîn Hassan, um dos filhos de Muhammad.

Nada provocava medo neste quarto grande senhor, nem a seus seguidores. Decidido a pôr fim à dinastia dos Ayyubidas, ele ordenou, por três vezes, a morte de Saladino, seu mais célebre representante. A primeira tentativa ocorreu em 1174, a segunda, em 1175 e a última, em 22 de maio de 1176. Assassinos disfarçados de soldados da guarda pessoal de Saladino tentaram enforcar o sultão do Egito e da Síria. Antes da morte de Raymond II de Trípoli, os Assassinos consideravam os cruzados como "aliados objetivos".

Felipe Augusto e Ricardo Coração de Leão até mesmo se entenderam com o chefe da seita. O tratado foi regido pela máxima: "os inimigos de meus inimigos são meus amigos." O grande senhor considerava que tudo o que podia enfraquecer os invasores árabes era bom para os persas.

Assim, quando São Luís desembarcou no Oriente, em 1248, os Assassinos eram uma força a levar, forçosamente, em conta. O apetite de dinheiro e de reconhecimento da seita permanecia igual. Após sua derrota em Mansoura, o rei franco recebeu uma mensagem que não poderia ser mais clara: "Os príncipes ocidentais anteriores, como o rei da Hungria e o imperador da Alemanha, pagaram-me um tributo, e o senhor, que foi derrotado, deve fazer o mesmo." Os embaixadores exibiam os atributos habituais do Velho da Montanha: o punhal, símbolo de sua força, e a mortalha com a qual envolvia suas vítimas. A ameaça era clara. Mas, se outros cederam à chantagem, São Luís resistiu.

Com isso, ele ganhou a consideração do grande senhor. Duas semanas mais tarde, o grande senhor ofereceu ao rei da França seu anel e a sua camisa: "A camisa é a vestimenta que está mais próxima do corpo; o grande senhor quer estar assim mais próximo do rei franco." Esta declaração de amizade foi acompanhada por presentes: um jogo de xadrez de âmbar perfumado, um elefante e uma girafa de cristal. O rei, em retribuição, ofereceu-lhe jóias e deixou no local um embaixador permanente, o dominicano Yves Le Breton.

Outro príncipe, Halagu, recusou a chantagem do Velho da Montanha. Era um chefe mongol e estava decidido a acabar de uma vez por todas com os Assassinos e seu chefe. Em 1256, ele conquistou e arrasou a cidadela de Alamut, pondo fim a 166 anos de terrorismo. Um cronista da época alardeava: "Eles ousaram ameaçar o tigre e este os esmagou." Passados nove séculos, uma ameaça semelhante se ergue, desta vez do Oriente rumo ao Ocidente.

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