quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Nova Fiat Strada Cabine Dupla 2010

A Fiat acaba de lançar oficialmente a Strada Cabine Dupla, 2010 – e junto com o lançamento foram liberadas mais fotos. A versão cabine dupla só está disponível na versão de acabamento Adventure, e custa (básica) cerca de 46 mil reais. Tem somente 4 lugares, e a capacidade da caçamba foi reduzida de 830 para 580 litros, e a cabine aumentou cerca de 20cm em relação a versão estendida – Confira fotos do interior na extensão da postagem.


A Fiat, montadora italiana apresentou a Strada Adventure com cabine dupla e capacidade para transportar quatro pessoas. Desde 1999, quando lançou a Palio Adventure, a marca firmou-se diante da concorrência como a fábrica que mais entende do riscado. A Volkswagen e a Ford, respectivamente com CrossFox e EcoSport, enfrentam como podem a família Adventure, composta por Idea, PalioWeekend, Doblò e Strada. A escola francesa (Citroën C3 XTR, Peugeot 207 Escapade e Renault Sandero Stepway), por sua vez, não passa de coadjuvante nesse lucrativo segmento de carros de imagem. 


Péricles Malheiros, da Revista 4 Rodas, confessa que chegou ao evento de lançamento com alguns preconceitos. Cabine dupla numa picape pequena com apenas duas portas e sem aumento de entre-eixos? Aos poucos, porém, o projeto foi convencendo. As linhas externas são agradáveis, embora ainda achasse o perfil da cabine estendida mais harmonioso. Para acessar a traseira, puxa-se a alça lateral do banco: ele desliza em direção ao painel, voltando, em seguida, à posição original, como nos Palio duas portas. Exige certo contorcionismo chegar lá atrás, mas tudo bem: quem escolhe uma picape cabine dupla de suspensão alta para o dia a dia na cidade é jovem, assim como seus convidados eventuais. Ao ser invadida pela cabine, a caçamba teve seu volume disponível reduzido em 30%, caindo de 830 para 580 litros – a capacidade de carga em quilos, porém, caiu apenas 5%, de 685 para 650 kg. Problema? Nem tanto. Esse é o tipo de picape mais utilizado como carro de passeio que como um utilitário com pretensões off-road. Ou seja, espaço na caçamba, ainda que importante, deixa de ser crucial. 

Strada duplicada 

A carroceria com cabine dupla estava disponível inicialmente apenas na versão Adventure, mas a nova configuração foi estendida à versão Trekking. “Notamos que o mercado pede a novidade também na Trekking, então, não há por que não fazê-la.” Mas voltemos ao lançamento. O sistema de bloqueio eletrônico do diferencial, o Locker, que na cabine estendida é de série, foi parar na lista de opcionais da cabine dupla, por 1 500 reais, sob a justificativa de a dupla ter uma pegada mais urbana, segundo a fábrica. Na realidade, a estratégia visa estabelecer um degrau de preço em relação à cabine estendida. Em meados de junho de 2009, novamente com o mercado encoberto pelas nuvens sobre a continuidade da isenção de IPI, a Fiat liberou o preço (em 2009): 46 440 reais, ante 44 540 da estendida – sem o Locker, é bom lembrar. Ar-condicionado, direção hidráulica e travas e vidros elétricos já estão inclusos no preço. ABS e airbag duplo são vendidos num único pacote, por 2 845 reais. 


Com plásticos revestindo as laterais quase que do chão ao teto, o espaço traseiro nem de perto lembra uma adaptação. Um par de cintos retráteis e de encostos de cabeça define o número de pessoas que podem viajar ali. A janela, fixa, é mais ampla que a da estendida e permite curtir a paisagem. Se você tem mais de 1,80 m, convém fazer um test-drive para verificar se o carro está à sua altura. Com o banco todo recuado, a utilização da porção traseira da cabine fica comprometida tanto para passageiros (há pouco espaço para as pernas) quanto para bagagem (o assento bascula para a frente, mas não permanece na vertical). Em resumo, este lançamento da Fiat é indicado para quem abria mão da Strada apenas porque, mesmo que esporadicamente, deparava com a necessidade de transportar mais de um convidado. A perua Palio Adventure? Sim, seria uma alternativa mais confortável, porém não oferece a versatilidade da caçamba e o carisma das picapes, além de ser bem mais cara – 53 040 reais.




A fim de dobrar o espaço para ocupantes, a engenharia da Fiat alongou a cabine apenas 20 cm em relação à estendida. A medida exigiu um novo santantônio e um rack de teto mais longo. Carlos Eugênio Dutra, diretor de produto, comenta as mudanças mecânicas: “Apesar de o acréscimo de peso ter sido de apenas 35 kg, recalibramos todos os amortecedores. Na traseira, as molas estão mais flexíveis, privilegiando o conforto”. Fontes ligadas à fábrica contam que uma versão com entre-eixos alongado chegou a ser cogitada. Esse projeto permitiria a inclusão da cabine dupla sem perda de espaço na caçamba, mas acabou descartado por exigir um investimento muito alto. 


 Botão sem volume 

Algumas falhas de DNA podem ser notadas no lançamento da Fiat. Com leitor de MP3 e viva-voz Bluetooth, o rádio (opcional) é rico em recursos, mas pobre em praticidade. Com o carro em movimento, não é raro desligar o aparelho sem querer, ao tentar mudar o volume. Culpa do botão muito curto. Abra o porta-luvas e encontre a entrada USB e um “berço” para acomodar seu iPod – dependendo do modelo do Apple, abdique de colocá-lo ali, pois o espaço é insuficiente, assim como o comprimento do cabo. Mas a herança genética também trouxe vantagens. A tampa traseira é facilmente removível e você não encontrará problemas para amarrá-la na caçamba, repleta de ganchos e protegida por um plástico resistente


Alguns pequenos detalhes são curiosos. O estepe da cabine dupla vai junto à janela traseira, no centro, enquanto na estendida ele fica à esquerda. No interior, o inclinômetro traz apenas o desenho da estendida. Para finalizar, a cabine dupla oferece duas alças de segurança no teto, enquanto a estendida oferece porta-óculos no lado do motorista. 




Ao volante, o novo rebento da família Adventure mostrou que é muito mais que um rostinho bonito para se destacar na cidade. Com a cabine dupla, rodamos por terra, lama, buracos, pedras, água, areia. Enfim, terrenos nos quais a maior parte dos aventureiros urbanos jamais passará. Em todo caso, se um dia você precisar sair do asfalto, é bom saber que a Strada vai se comportar bem. O teste foi feito ao longo e nas proximidades da Estrada Real, uma rota criada há mais de 300 anos pela coroa portuguesa para ligar Diamantina (MG) ao litoral do Rio de Janeiro (RJ). Na rota histórica, a suspensão foi o grande destaque. Entre saltos e depressões, raramente a suspensão revelou o fim do curso, proporcionando uma direção precisa e proteção às partes vitais da picape. Já no asfalto, reencontramos o modelo avaliado em Limeira, interior de São Paulo, na pista da TRW, onde são feitos todos os testes de QUATRO RODAS. 


Com 1 195 kg, a Strada Adventure Cabine Dupla praticamente empata em peso com a perua Palio Adventure (1 198 kg), avaliada em julho de 2008. Não por acaso, os números do teste foram muito semelhantes. Cumpriu o 0 a 100 km/h em 12,9 s, a frenagem de 80 km/h a 0 em 26,6 s e a retomada de 40 a 80 km/h em 7,6 s – na mesma ordem, a station cravou 12,6, 27,5 e 7,3 s. 




A Fiat estima uma venda mensal entre 1 000 e 1 500 unidades da cabine dupla e sabe que uma parte dos compradores migrará da versão estendida. Mas a marca está de olho mesmo é em clientes vindos de outras marcas e, principalmente, de outras categorias.


fiat strada aDVENTURE 2010, CABINE DUPLA 1.8 8V FLEX 2P MANUAL
Preço: R$49.420,00
Categoria: Picape Compacta
Capacidade: 2 + 2 passageiros
DESEMPENHO
GASOLINA
Velocidade máxima173 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h12 segundos
Consumo urbano10,9 km/l
Consumo rodoviário15,3 km/l
Consumo médio km/l
ÁLCOOL
Velocidade máxima175 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h11,8 segundos
Consumo urbano7,6 km/l
Consumo rodoviário10,6 km/l
Consumo médio km/l


FIAT STRADA WORKING 2010, CABINE DUPLA 1.4 8V FLEX 2P MANUAL
Preço: R$38.620,00
Categoria: Picape Compacta
Capacidade: 2 + 2 passageiros
DESEMPENHO
GASOLINA
Velocidade máxima163 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h13,4 segundos
Consumo urbano12,4 km/l
Consumo rodoviário16,5 km/l
Consumo médio km/l
ÁLCOOL
Velocidade máxima164 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h13,2 segundos
Consumo urbano8,5 km/l
Consumo rodoviário11,5 km/l
Consumo médio km/l

DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
A Fiat sabe que a picape roda a maior parte do tempo na cidade. Por isso, a suspensão é bem macia. No off-road leve, não demonstrou medo dos buracos.
★★★

MOTOR E CÂMBIO O casamento é feliz, mas o motor 1.8 flex bebe exageradamente sempre que o motorista pede um pouco mais de desempenho.
★★★

CARROCERIA
Como um legítimo Adventure, tem design matador. Internamente, porém, é o mesmo Palio de sempre. Um sistema que abaixasse um pouco o vidro para facilitar o fechamento da porta seria muito bem-vindo. A caçamba é pequena para levar motos e bicicletas, mas é maior que o já enorme porta-malas da Palio Weekend.
★★★★

VIDA A BORDO
Ar, direção e travas e vidros elétricos são de série. Rádio, opcional. Alarme, acessório. Num dia ensolarado, o teto solar sem proteção contra a luminosidade pode castigar quem vai no banco traseiro.
★★★

SEGURANÇA
Com o centro de gravidade elevado por causa da suspensão alta, a carroceria inclina demais nas frenagens. Ao menos o ABS deveria ser de série.
★★★

SEU BOLSO A diferença de preço em relação à estendida é justa. Cabine e caçamba não fazem milagres, mas resolvem a maiorparte das situações.
★★★
Retirado do site AUTOZINE e da REVISTA 4 RODAS, em 30/12/2010

sábado, 27 de novembro de 2010

OS COMUNISTAS QUEREM ACABAR COM A FAMÍLIA E COM A EDUCAÇÃO

Sempre há alguém pronto para falar do comunista "comedor de criancinha". Ao ouvir isso, não deixe de indagar se uma família pode viver com o salário mínimo, o pai e mãe desempregados e uma moradia sem fornecimento de água e luz. E se uma criança pode ser educada para a vida numa escola pública abandonada pelo governo, que finge que paga aos professores e funcionários. Na sociedade capitalista a educação é, ela própria, um comércio, uma atividade lucrativa.

CONCEITOS: CAPITALISMO, SOCIALISMO, COMUNISMO E ANARQUISMO

O capitalismo teve seu início na Europa e suas características aparecem desde a baixa idade média, do século XI ao XV, com a transferência do centro da vida econômica social e política dos feudos para a cidade.

A partir da segunda metade do século XVIII, com a Revolução Industrial, inicia-se um processo ininterrupto de produção coletiva em massa, geração de lucro e acúmulo de capital. Na Europa Ocidental a burguesia assumiu o controle econômico e político. As sociedades foram superando os tradicionais critérios da aristocracia e a força do capital se impôs.

Surgiram as primeiras teorias econômicas: a fisiocracia e o liberalismo.

Na Inglaterra, o escocês Adam Smith (1723-1790), foi o precursor do liberalismo econômico. Publicou "Uma Investigação sobre Naturezas e Causas da Riqueza das Nações", defendendo a livre iniciativa e a não-interferência do Estado na economia.

SOCIALISMO

Socialistas Utópicos e socialistas Científicos. Este início foi marcado pela introdução das idéias de Marx e Engels no universo de construção de uma nova sociedade.

COMUNISMO

Para Marx, a luta de classes é o meio pelo qual a história progride. Ele acreditava que a única forma de alcançar uma sociedade feliz e harmoniosa seria com os trabalhadores no poder. 

Suas idéias eram uma reação às duras condições de vida dos trabalhadores no século XIX. Estava convencido de que a vitória do comunismo era inevitável. O comunismo, segundo ele, é o último e mais alto estágio de desenvolvimento.

ANARQUISMO

Foi a proposta revolucionária mais importante do mundo, durante a segunda metade do século XIX e início do século XX, quando foi substituído pelo marxismo (comunismo).

O anarquismo pregava o fim do Estado e de toda e qualquer forma de governo, que seriam as causas da existência dos males sociais.

REVISIONISMO

Eduard Bernstein em seu livro "Os pressupostos do socialismo e as tarefas da social-democracia", recomendou abandonar utópicas esperanças revolucionárias e contentar-se, realisticamente com o fortalecimento do poder político e econômico das organizações do proletariado, considerando-se que as previsões marxistas de depauperamento progressivo (esgotar as forças de forma a tornar-se muito pobre) das massas não se tinham verificado.

Depois da morte de Marx e Engels, a rápida industrialização da Alemanha e o fortalecimento do partido social-democrata e dos sindicatos melhoraram muito as condições de vida dos trabalhadores alemães, ao mesmo tempo em que se tornou cada vez mais improvável a esperada crise fatal do regime capitalista.

KARL MARX e ENGELS - A LUTA DE CLASSES, O DISCURSO SOBRE A AÇÃO POLÍTICA DA CLASSE OPERÁRIA E A IDEOLOGIA ALEMÃ

A teoria marxista também procura explicar a evolução das relações econômicas nas sociedades humanas ao longo do processo histórico. Segundo a concepção marxista, uma permanente dialética das forças entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos, a história da humanidade seria constituída por uma permanente luta de classes, como deixa bem claro a primeira frase do primeiro capítulo d'O Manifesto Comunista: A história de toda sociedade passado é a história da luta de classes.

Para Engels são "os produtos das relações econômicas de sua época". Apesar das diversidades aparentes, escravidão, servidão e capitalismo seriam essencialmente etapas sucessivas de um processo único. A base da sociedade é a produção econômica. Marx queria a inversão da pirâmide social, pondo no poder a maioria, os proletários.

Para Marx os trabalhadores estariam dominados pela ideologia da classe dominante. Quanto mais o mundo se unifica economicamente mais ele necessita de socialismo.

Não basta existir uma crise econômica para que haja uma revolução. O que é decisivo são as ações das classes sociais que, para Marx e Engels, em todas as sociedades em que a propriedade é privada existem lutas de classes (senhores x escravos, nobres feudais x servos, burgueses x proletariados). A luta do proletariado do capitalismo não deveria se limitar à luta dos sindicatos por melhores salários e condições de vida. Ela deveria também ser a luta ideológica para que o socialismo fosse conhecido pelos trabalhadores e assumido como luta política pela tomada do poder. Neste campo, o proletariado deveria contar com uma arma fundamental, o partido político.

Marx tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria injustiça social, e que o único jeito de uma pessoa ficar rica e ampliar sua fortuna seria explorando os trabalhadores, ou seja, o capitalismo de acordo com Marx é selvagem, pois o operário produz mais para o seu patrão do que o seu próprio custo par aasociedade, e o capitalismo se apresenta necessariamente como um regime econômico de exploração, sendo a mais-valia a lei fundamental do sistema.

A mais-valia é consituída pela diferença entre o preço pelo qual o empresário compra a força de trabalho (6 horas) e o preço pelo qual ele vende o resultado (10 horas por ex.). Desse modo, quanto menor o preço pago ao operário e quanto maior a duração da jornada de trabalho, tanto maior o lucro empresarial.

No capitalismo moderno, com a redução progressiva da jornada de trabalho, o lucro empresarial seria sutentado através do que se denomina mais-valia relativa (em oposição à primeira forma, chamada mais-valia absoluta), que consiste em aumentar a produtividade do trabalho, através da racionalização e aperfeiçoamento tecnológico, mas ainda assim não deixa de ser o sistema semi-escravista, pois "o operário cada vez se empobrece mais quando produz mais riquezas", o que faz com que ele "se torne uma mercadoria mais vil do que as mercadorias por ele criadas". Assim, quanto mais o mundo das coisas aumenta de valor, mais o mundo dos homens se desvaloriza. Ocorre então a alienação, já que todo o trabalho é alienado, na medida em que se manifesta como produção de um objeto que é alheio ao sujeito criador. O raciocínio de Marx é muito simples: ao criar algo fora de si, o operário se nega no objeto criado. É o processo de objetificação. Por isso, o trabalho que é alienado (porque cria algo alheio ao sujeito criador) permanece alienado até que o valor nele incorporado pela força de trabalho seja apropriado integralmente pelo trabalhador. Em outras palavras, a produção representa uma negação, já que o objeto se opõe ao sujeito e o nega na medida em que o pressupõe e até o define. A apropriação do valor incorporado ao objeto graças à força de trabalho do sujeito-produtor, promove a negação da negação. Ora, se a negação é alienação, a negação da negação é a desalienação. Ou seja, a partir do momento que o sujeito-produtor dá valor ao que produziu, ele já não está mais alienado.

LUTA DE CLASSES E LUTA POLÍTICA - Marx: Abril 1847

Na luta, essa massa se reúne, se constitui em classe para si mesma. Os interesses que defende se tornam interesses de classe. Mas a luta entre classes é uma luta política.

Uma classe oprimida é a condição vital de toda sociedade fundada no antagonismo entre classes. A libertação da classe oprimida implica, necessariamente, a criação de uma sociedade nova.

O antagonismo entre o proletariado e a burguesia é uma luta de uma classe contra outra, luta que, levada à sua expressão mais alta, é uma revolução total. Não há, jamais, movimento político que não seja, ao mesmo tempo, social.

DISCURSO SOBRE A AÇÃO POLÍTICA DA CLASSE OPERÁRIA - Engels: Setembro 1871

A abstenção absoluta em matéria política é impossível. Trata-se apenas de como se faz e de qual. Pregar-lhes a abstenção seria empurrá-los para os braços da política burguesa.

Nós queremos a abolição das classes. Qual é o meio de a ela chegar? A dominação política do proletariado.

A IDEOLOGIA ALEMÃ - Marx e Engels: 1845-46

No primeiro capítulo do primeiro tomo é exposto o conteúdo positivo fundamental de todo o trabalho. Por isso o primeiro capítulo de A Ideologia Alemã é o mais importante de toda a obra e tem um significado independente.

A IDEOLOGIA ALEMÃ E EM ESPECIAL A FILOSOFIA ALEMÃ

A crítica alemã não abandonou, até aos seus esforços mais recentes, o terreno da filosofia dominada por Hegel. Esta dependência de Hegel é a razão pela qual nenhum destes críticos mais recentes tentou sequer uma crítica ampla do sistema de Hegel, por mais que cada um deles afirme estar para além de Hegel.

Toda a crítica filosófica alemã, de Strauss a Stirner, se reduz à crítica de representações religiosas. Partiu-se da religião real e da autêntica teologia.

Os jovens Hegelianos concordam com os velhos Hegelianos, na crença no domínio da religião, dos conceitos, do universal no mundo existente. Só que uns combatem o domínio como usurpação, e outros celebram-no como legítimo.

Para os jovens Hegelianos as representações, idéias, conceitos, em geral os produtos da consciência, valem como os grilhões autênticos dos homens.

Para os velhos Hegelianos significam os verdadeiros elos da sociedade humana.

Os ideólogos jovens hegelianos são, apesar das frases com que pretendem "abalar o mundo", os maiores conservadores. Os mais novos dentre eles encontraram a expressão correta para a sua atividade quando afirmam que lutam apenas contra "frases". Esquecem, apenas, que a estas mesmas frases nada opõem senão frases, e que de modo nenhum combatem o mundo real existente se combaterem apenas as frases deste mundo.

Não ocorreu a nenhum destes filósofos procurar a conexão da filosofia alemã com a realidade alemã, a conexão da sua crítica com o seu próprio ambiente material.

A primeira premissa de toda a história humana é a existência de indivíduos humanos vivos, primeiro fato a constatar é, a organização física destes indivíduos e a relação que por isso existe com o resto da natureza.

Podemos distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião - por tudo o que se quiser. Mas eles começam a distinguir-se dos animais assim que começam a produzir os seus meios de vida, passo este que é condicionado pela sua organização física. Ao produzirem os seus meios de vida, os homens produzem indiretamente a sua própria vida material.

O modo como os homens produzem os seus meios de vida depende, em primeiro lugar, da natureza dos próprios meios de vida encontrados e a reproduzir.

Aquilo que eles são coincide, portanto, com a sua produção, com o que produzem e também com o como produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais da sua produção.

Esta produção só surge com o aumento da população. Ela própria pressupõe, por seu turno, um intercâmbio dos indivíduos entre si. A forma deste intercâmbio é, por sua vez, condicionada pela produção.

As relações de diferentes nações entre si dependem do grau em que cada uma delas desenvolveu as suas forças produtivas, a divisão do trabalho e o intercâmbio interno.

Se a antiguidade partiu da cidade e da sua pequena área, a Idade Média partiu do campo.

Pouca foi a divisão do trabalho que teve lugar no apogeu do feudalismo. Todos os países tinham em si a oposição de cidade e campo; a estrutura de estados, ou ordens sociais, era certamente muito marcada, mas além da diferenciação de príncipes, nobreza, clero e camponeses, no campo, e de mestres, oficiais e aprendizes, e em breve também a plebe de jornaleiros, nas cidades, não teve lugar nenhuma divisão importante.

O fato é o de determinados indivíduos, que trabalham produtivamente de determinado modo, entrarem em determinadas relações sociais e políticas.

A produção das idéias, representações, da consciência está a princípio diretamente entrelaçada com a atividade material e o intercâmbio material dos homens, linguagem da vida real.

Os homens são os produtores das suas representações, idéias, etc. Nunca pode ser outra coisa senão o ser consciente, e o ser dos homens é o seu processo real de vida.

Em completa oposição à filosofia alemã, a qual desce do céu à terra, aqui sobre-se da terra ao céu. Isto é, não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam ou se representam, e também não dos homens narrados, pensados, imaginados, representados, para daí se chegar aos homens em carne e osso; parte-se dos homens realmente ativos, e com base no seu processo real de vida apresenta-se também o desenvolvimento dos reflexos e ecos ideológicos deste processo de vida.

Este modo de consideração não é destituído de premissas. Elas são os homens, não num qualquer isolamento e fixidez fantásticos, mas no seu processo de desenvolvimento real, perceptível empiricamente (de modo prático), em determinadas condições.

Lá onde a especulação cessa, a vida real começa, portanto, a ciência real, positiva, a representação da atividade prática, do processo de desenvolvimento prático dos homens. Com a representação da realidade a filosofia autônoma perde o seu meio de existência. A dificuldade começa quando nos damos à consideração e ordenação do material, seja de uma época passada seja do presente, à representação real.

sábado, 30 de outubro de 2010

LIVRO: ESPAÇO URBANO E CRIMINALIDADE - LIÇÕES DA ESCOLA DE CHICAGO

AUTOR: Wagner Cinelli de Paula Freitas
EDITORA: Método

1. Efeitos da industrialização nas cidades; 2. A cidade de Chicago; 3. A escola de Chicago; 4. Teorias Socioeconômicas da Cidade; 5. Teoria Ecológica: Vida após a crítica; 6. Análise das cidades Brasileiras pela ótica dos sociólogos de Chicago; 7. Conclusão.

Pg. 12 - PREFÁCIO
Nos últimos trinta anos, entretanto, tem surgido um sentimento crescente de que explicações gerais não oferecem soluções práticas para o controle da degradação do espaço urbano, nem para o aumento dos índices da criminalidade.

O renovado interesse pelo pragmatismo americano é fruto da certeza tanto de que práticas jurídicas e políticas públicas precisam de mudanças profundas em sua estrutura interna, quanto de que as grandes narrativas, sobre a natureza humana ou sobre os rumos da civilização ocidental, não nos deram instrumentos para resolver os problemas concretos que minaram as utopias de uma geração.

Pg. 13
O crime não é resultado de má índole, de fatores biológicos ou de questões sociais mais amplas, sejam ela a pobreza ou a desigualdade social. mas está, sim, relacionado à localidade em que ocorre e a fatores situacionais de toda ordem inerentes a esta localidade.

É necessário se fazer uma análise precisa de cada situação, das motivações presentes nos grupos identificados, na busca de respostas. Em suma, é necessário analisar o grupo social em que a criminalidade se concentra para que ações preventivas possam ter validade.

No desenvolvimento do livro temos: O ponto de partida desta nova abordagem pode ser caracterizado pela substituição dos diagnósticos feitos sobre dados abstratos por aqueles extraídos de um trabalho contínuo de observação da população. Com o objetivo de perceber como ela se posiciona e responde aos problemas vivenciados.

Pg. 15
No Brasil... é como se a Criminologia tivesse parado em 1938, com a obra escrita por Robert Merton (Social Structure and Anomie), que é o mais novo dos cientistas sociais...

Pg. 16
A maior aproximação do sociólogo á Criminologia costuma ocorrer quando se interessa em estudar a violência, com ênfase nos direitos humanos..., o como que é desenvolvido pelo Centro de Estudos da Violência da USP.
Outras Instituições: Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, S.P. e o Instituto Carioca de Criminologia, no Rio de Janeiro.

Pg. 17
A sociedade industrial moderna fez concentrar a população nas cidades.

As mudanças não são apenas de ordem econômica, demográfica e espacial. Atingem os costumes, as interações sociais e as formas de controle social.

Pg. 33
Pelas suas dimensões sem precedentes, pela sua heterogeneidade etnica e cultural, pelo anonimato e atomismo da sua interação, a cidade moderna caracteriza-se pela ruptura dos mecanismos tradicionais de controle (família, vizinhança, religião, escola) e pela pluralidade, praticamente sem limites, das alternativas de conduta.

Pg. 34
O conceito de urbanismo como forma de vida baseia-se na idéia de que a vida na cidade combina impessoalidade com distância social.

Pg. 35
A cidade grande é, como definiu Edward Krupat, um "mundo de estranhos": "...muitas pessoas que se vêem diariamente no ônibus ou na estação de trem, na lanchonete ou nos corredores do local de trabalho, nunca se tornou mais do que "estranhos familiares".

É neste "mundo de estranhos" que surgem os primeiros conflitos do capital-trabalho.

Pg. 37
A impessoalidade e o anonimato marcaram a maioria das interações sociais que ocorreram no locus urbano.

Os costumes perderam força coercitiva, que passou a ser exercida pela lei. Uma nova instituição surgiu na cidade grande, especialmente entre os jovens das áreas ou classes menos favorecidas: a gangue... não se trata de uma instituição no sentido formal, afinal, não se registra gangue na junta comercial.

Pg. 38
A gangue... passou a ter mais importância na formação de um grande número de pessoas do que outras instituições. O caminho à sua compreensão passa pelo estudo dos fenômenos urbano e industrial, bem como das interações e tensões sociais a envolver os que vêm a integrá-las.

Pg. 41
Manuel Castells... diz que "é útil fixar os contornos históricos de um fenômeno antes de se iniciar a sua investigação".

Pg. 46
A abrupta mistura de culturas aliada às péssimas condições de vida contribuiram para o aumento da criminalidade.

Pg. 47
O aumento da criminalidade foi acompanhado por uma política de segurança voltada para a repressão, levada a cabo pelo aparelho policial.

Pg. 54
Uma característica importante do trabalho dos sociólogos de Chicago foi a de terem reunido dados estatísticos e qualitativos que evidenciavam que o crime era um produto social do urbanismo.

Pg. 55
O formalismo é um ramo da sociologia que tem por objetivo captar as formas subjacentes de relações sociais e, assim, fornecer uma espécie de geometria ou fórmula da vida social. ... cada situação social é única, sendo parte de um quadro maior de processos formais. O pragmatismo considera verdadeiro tudo o que pode ser feito com êxito.

Pg. 65
Robert Ezra Park, pregava que a sociologia não estava interessada em fatos, mas em como as pessoas reagiam a eles.

Este método inovador... é o da observação participante... Assim, o conhecimento tem por base não a experiência alheia, mas a própria experiência do pesquisador.

... divisão da cidade em áreas é uma das características da ecologia humana.

Pg. 66
A criminalidade não é determinada pelas pessoas, mas pelo grupo a que pertencem.

Foi André-Michel Guerry que apresentou o primeiro trabalho de ecologia social do crime através do uso de mapas para relacionar três elementos: crime, localidade e fatores demográfico, situacionais e ambientais sobre a criminalidade, tendo concluído que eram as condições da sociedade que causavam a criminalidade.

Pg. 68
A perspectiva ecológica considera que o comportamento humano é modelado pelas condições sociais presentes nos meios físico e social, condições estas que limitam o poder de escolha do indivíduo. As pessoas são vistas como conformistas, pois agem de acordo com os valores e normas do grupo... A Escola Clássica privilegia o livre arbitrio individual... A ecologia humana considera que a sociedade impõe limitações a este livre arbítrio.

PG. 70
A teoria ecológica se baseia na "perspectiva de vida coletiva como um processo adaptativo consistente de uma interação entre meio ambiente, população e organização". Portanto, no estudo das causas da criminalidade, privilegia aspectos sociológicos ao invés de indivíduais. O comportamento humano é visto como sendo moldado por vetores sócio-ambientais. Assim, o crime não é considerado um fenômeno individual, mas ambiental, no sentido de que o ambiente compreende os aspectos físico, social e cultural da atividade humana. Daí muitos se referiem a esta corrente como positivismo soiológico.

TEORIA DAS ZONAS CONCÊNTRICAS ADAPTADO DE BURGESS (Pg. 74)

Zona I (centro); II área imediata entorno da zona I (representa a transição do distrito comercial para as residências); Zona III contém residências de trabalhadores que escaparam das más condições da Zona II; Zona IV é o subúrbio, caracterizada por casa e apartamentos de luxo (classes média e alta); Zona V, contém áreas suburbanas e cidades satélites (habitada por pessoas que trabalham no centro).

PG. 75
A zona II normalmente é marcada por casas em péssimo estado de manutenção, infra-estrutura deficiente, pobreza, doenças, alcoolismo, restaurantes baratos, pessoas ociosas, novos imigrantes e baixo controle social. É a "área natural" a ser ocupada pelo recém-chegado à cidade.

PG 76
O morador da Zona II não cria ou evita criar vínculos com a área, o que é fator a contribuir para o baixo controle social desta localidade. Em razão destas características a hipótese de Park e Berger era que a Zona II era a área da cidade na qual o crime e o vício floresceriam.

O fato destas pessoas não terem vínculos com a área, cria condições para o florescimento do crime e do vício.

PG 77
Mais genericamente, a desorganização social se refere a uma situação em que há pouco ou nenhum sentimento de comunidade, relações são transitórias, níveis de vigilância da comunidade são baixos, instituições de controle informal são fracas e as organizações sociais ineficazes.

PG 79

Segundo Frederic Milton Trasher "... a formação da gangue reflete uma dinâmica social, como, a busca da identidade em razão da modificação da cidade.".

PG 81
A gangue, ... é a gênese de muitos adultos que desenvolvem uma carreira criminosa.

No Brasil não me parece que esse fenômeno se dê de tal forma, através das gangues.

Quanto aos centros de recuperação de menores infratores, tornam-se lugares conhecidos dos membros da gangue e, embora criados para "reformar" estes jovens, acabam muitas vezes acelerando o processo de delinquência.

PG 84
Algumas das conclusões de Clifford Shaw (1982):
a) Quanto mais perto do centro da cidade, maior a taxa de crime;
b) As taxas altas de crime eram verificadas em áreas caracterizadas por deterioração do espaço físico e população em declínio;
c) Apesar da composição da população da Zona II ter se modificado significativamente ao longo de trinta anos, altas taxas de crime persistiam nesta área. ... os níveis de criminalidade eram determinados pela natureza da vizinhança e não pela natureza dos indivíduos que lá viviam. Esta perspectiva é chamada de determinismo ambiental.

Shaw e Mckay concluíram que a delinquência é passada por transmissão cultural. Eles relacionaram a delinquência juvenil à teoria de desorganização social.

PG 85
... haveria uma probabilidade maior da prática de crime numa comunidade com ausência de suporte comunitário, havendo probabilidade menor de sua ocorrência se os adolescentes tivessem apoio de seus pais, escola e/ou igreja. ... concluíram que a delinquência juvenil era determinada pela situação econômica e pelo local em que se vivia e não por características étnicas.

A ESCOLA DE CHICAGO (Pg 86)
... admitiu que as infrações penais decorriam de uma imposição do ambiente físico e social. ... a diminuição da criminalidade dependeria da intervenção, a se dar por meio de políticas públicas preventivas.

PG 94
A Escola de Chicago foi pioneira na área de estudos urbanos e, com seu trabalho, abriu espaço para muitos estudos subsequentes sobre a relação entre crime e espaço urbano. A ecologia humana de Park foi criticada por Milla Alihan (1938), que não concordou com o uso das metáforas com as plantas para se explicar a sociedade humana.

PG 96
... a analogia com as plantas não levava em consideração elementos importantes como tecnologia, classe e poder. ... A ausência mais incrível nesta modelagem de espaço urbano foi a do processo de industrialização e seu impacto formativo na geografia urbana.

PG 98
Einstadter e Henry (1995) destacaram que ... o crime era produto da desorganização social. Como consequência, a explicação de desorganização social era "uma tantologia", ou seja, uma repetição inútil de uma mesma idéia em termos diferentes.

PG 103-104
A ecologia humana ganhou novo impulso na Inglaterra na década de 70 e nos EUA a partir dos anos 80, notadamente devido a dois fatores principais:
a) a redescoberta do crime;
b) as estatísticas sobre criminosos.

Nos anos 70, diversas correntes criminológicas transferiram o foco do infrator para a infração penal. ... pesquisas de vitimização de larga escala, ... sobre crime como oportunidade, levaram à perspectiva criminológica denominada "prevenção situacional do crime". É uma teoria do controle baseada na idéia de que o crime pode ser melhor prevenido de duas formas:
a) reduzindo-se as oportunidades de se cometer o crime, e que estão disponíveis no ambiente;
b) aumentando-se os riscos da atividade criminosa.

PG 105
Morris não concordou com a avaliação de Shaw e Mckay de que áreas de alta taxa de crime continuavam a gerar crimes mesmo que houvesse alteração quanto aos seus habitantes. A conclusão de Morris foi de que não é apenas a área que leva alguém a cometer crime e que "os processos ecológicos naturais de seleção e que se manifesta no ciclo de invasão-dominação-sucessão, estão sujeitos a serem severamente modificados por políticas sociais".

PG 107
Uma novidade neste renascimento da ecologia é que as revisões da teoria ecológica passam a levar em consideração a importância dos fatores político e econômico na análise sobre áreas criminogênicas.

PG 110
O aprendizado também pode ocorrer através de interações diretas com o meio, independentemente de associações com outras pessoas.

PG 111
Desenho ambiental (crime prevention through environmental design). Considera que o desenho arquitetônico de prédios e áreas públicas previne a ocorrência do delito, influindo no índice de criminalidade. Oscar Newman combinou noções de antropologia e arquitetura, associando-as ao conceito de vigilância.

PG 112
As teorias do controle têm por fundamento a idéia de que qualquer pessoa é um criminoso potencial, sendo a oportunidade da prática do crime a maior incentivadora da atividade criminosa. São as formas de controle que evitam que a maioria das pessoas cometa crime. Aqueles que praticam crime o fazem em virtude da fragilidade das forças de controle que estão em operação.

Diversas são as teorias de controle que receberam influência da Teoria Ecológica.

TEORIA DO CONTROLE QUE CONSIDERAM A VARIÁVEL "ESPAÇO". (Pg112)
a) As teorias das atividades de rotina (1979) ... que entendem o crime como produto de três fatores conjuntos e que se aliam a certos momentos e lugares: um infrator motivado, uma vítima potencial e a ausência de um guardião capaz;

b) Prevenção situacional do crime (1980) e Teoria da escolha racional (1985)m h;a abordadas;

c) Tese das janelas quebradas... (1982) que, em síntese, preconiza que uma simples janela quebrada é sinal que ninguém se importa ou cuida daquele imóvel e isso leva a outros danos e que uma situação individual de desleixo pode contaminar toda uma área, que entra numa espiral de deterioração tanto física quanto das relações sociais de que é palco.

PG 113
Outra teoria do controle que sofreu influência da Escola de Chicago lançada por James Q. Wilson (1985) para quem as causas do crime dependem de três elementos:
a) Fatores constitucionais (idade, sexo...);

b) Presença ou ausência de controladores de comportamento (custo-benefício do crime);

c) Natureza da consciência (varia de acordo com a constituição individual e o processo de aprendizado de cada um).

São explicações sociobiológicas da criminalidade, com ênfase em ser o crime um fenômeno urbano.

PG 113
Contribuições da Escola de Chicago têm influenciado uma série de estudos urbanos empíricos e também perspectivas criminológicas.

PG 114
Os estudos e pesquisas na área da criminologia apresentam fatos sobre o crime:
1. O crime é desproporcionalmente praticado por pessoas que moram nos grandes centros urbanos;

2. O crime é desproporcionalmente praticado por pessoas que experimentam alta mobilidade residencial e que residem em áreas assim caracterizadas;

3. Pessoas jovens que se relacionam com delinquentes ou criminosos estão mais sujeitos a se envolverem com a prática do crime.

A tese central da Escola de Chicago é o caráter criminógeno da cidade.

PGs 116-117
Uma tentação para o pesquisador é buscar aplicar a teoria das zonas concêntricas às grandes cidades brasileiras, entretanto, há dificuldades, e a primeira delas é a diferença quanto a aspectos econômico-industriais. 

O Brasil, distintamente dos EUA e Europa viveu um processo de industrialização desacompanhado de reforma agrária. E o subúrbio no Brasil é uma área pobre, enquanto nos EUA é uma área mais rica.

PG 121
Uma tendência surgida há aproximadamente 25 anos é o deslocamento de número significativo de pessoas para condomínios de luxo situados em áreas distantes do centro comercial principal, condomínios estes que se assemelham a cidades... mas que são cercados por muros e dotados de monitoramento de seus espaços por circuito de TV e vigilância permanente. É o caso, em São Paulo, de Alphaville e, no Rio de Janeiro na Barra da Tijuca.

Este tipo de condomínio fechado, longe do centro comercial, pode ser encontrado, no Brasil, a partir da década de 70. Se adequando à denominada área dos commuters, da teoria das zonas concêntricas (pgs116, 117) de Burgess, que é a Zona V.

PG 123
Manuel Castells explica que o aumento das tensões sociais e a decadência da cidade são as causas que levam as elites a se agruparem em comunidades fechadas... Este emuralhamento dos mais favorecidos foi, no final dos anos 90, um fenômeno mundial. A antropóloga Teresa Pires do rio Caldeira, confirma o comentário de Castells e explica: "A violência e o medo combinam-se a processos de mudança social nas cidades contemporâneas, gerando novas formas de segregação espacial e discriminação social"... Os discursos sobre o medo que simultaneamente legitimam essa retirada e ajudam a reproduzir o medo encontram diferentes referências negativas aos pobres e marginalizados. ...as formas de exclusão e encerramento sob as quais as atuais transformações espaciais ocorrem são tão generalizadas que se pode tratá-las como parte de uma fórmula que elites em todo o mundo vêm adotando para reconfigurar a segregação espacial de suas cidades.

CONFOMÍNIOS FECHADOS

1. São propriedade privada para uso coletivo;

2. Enfatizam o valor do que é privado e restrito ao mesmo tempo em que desvalorizam o que é público e aberto na cidade;

3. São fisicamente demarcados por muros, grades, espaços vazios e detalhes arquitetônicos;

4. São voltados para o interior e não em direção à rua;

5. São controlados por guardas armados e sistemas de segurança, a impor regras de inclusão e exclusão;

6. São flexíveis, podem se situar praticamente em qualquer lugar, em razão de sua autonomia e independência em relação ao seu entorno.

Essa estratégia segue a lógica da segregação.

PG 124
Ao mesmo tempo que se multiplicam as formas de endo_ves fortificados, as grandes cidades brasileiras vêm apresentando um aumento no número de favelados, o que evidencia o aumento da distância social entre as classes que as habitam.

PG 126
O grupo dos residentes em favelas, está melhor situado na estrutura urbana do que as populações chamadas de rua, tais como os sem-teto, mendigos e meninos e adolescentes de rua. ... quando um morador de favela é desalojado de sua casa... perde um aspecto relevante de sua identidade e posição sociais, perde seu local de referência.

Os mais favorecidos se isolam dos demais através de uma fragmentação do espaço social.

PG 127
Apesar de singularidades da realidade urbana brasileira, não se pode deixar de considerar a pertinência do debate sobre a cidade dual, marcada pela polarização do rico e do pobre, combinada com um aumento da economia informal e redução de serviços sociais. ... Um ingrediente importante nesta fórmula é o achatamento da classe média.

PG 129
Diversas ruas vêm sendo "fechadas" por seus moradores, especialmente as do tipo "sem saída", através da colocação de guarita e vigia particular para controlar entrada e saída das pessoas naqueles trechos. Moradores contratam vigias para suas ruas... Multiplicam-se as empresas de segurança privada.

PG 130
No Brasil, muitos dos vigias de rua e vigilantes de empresas privadas, de segurança ou não, são policiais civis e militares, que têm nesta atividade particular o seu segundo emprego... Esse quadro de envolvimento de policiais com esta atividade coloca em xeque um aspecto ético profissional que ultrapassa a problemática do público-privado, que é a seguinte questão: até que ponto sua baixa eficiência no serviço público garante mais mercado e melhores rendimentos à sua atividade privada? Ainda sobre a privatização do controle social, cresce um movimento de privatização das prisões, iniciado em 1976 nos EUA.

PG 131
A Wackenkut Corrections Corporation, em seu relatório anual de 1994, faz referência ao desenvolvimento, na América do Sul, de um mercado favorável às prisões privadas.

PG132
Neste processo de privatização, sobra para os mais pobres um sistema de saúde e previdência que os demais já substituíram por planos de saúde privados e previdência privada, que são muito superiores em qualidade e vantagens. Também sobra para os mais pobres uma escola pública deteriorada pela falta de professores e de investimento. A classe média, que no passado tinha seus filhos ocupando as carteiras da escola pública, hoje se vale do ensino privado, reconhecidamente de melhor qualidade. Os menos favorecidos têm à sua disposição áreas para seu lazer que, além de não serem muitas, pouco oferecem, ao contrário dos clubes, dentro ou fora de condomínios, parques temáticos e outras formas de lazer pago que estão disponíveis aos que estão melhor situados na escala social e econômica.

Vê-se assim, que a forma de ocupação dos espaços da cidade está diretamente relacionada às interações sociais.

Ainda que se encontre restrição à utilização da teoria ecológica às cidades brasileiras, a reflexão sobre o tema certamente haverá de contribuir para se conhecer melhor o fenômeno urbano, seja através do estudo da Escola de Chicago pelo viés da ecologia humana, que foi o principal foco de atenção deste trabalho, seja pelas suas duas outras linhas importantes que são as idéias de Louis Wirth sobre urbanismo como forma de vida e o interacionismo simbólico.

PG 135
A Escola de Chicago, em razão de suas contribuições para a compreensão da criminalidade e especialmente da relação desta com o espaço urbano, ocupa posição de destaque na história da sociologia do crime, da delinquência e do controle social... O importante é contribuir para o entendimento deste pedaço tão intrincado e precioso da realidade social que é o crime... A criminalidade eflui com maior vigor de uma sociedade onde os laços sociais estão menos coesos e suas instituições contam com baixo índice de credibilidade junto à população.

PG 137
A melhor compreensão do fenômeno urbano torna possível o desenvolvimento de políticas públicas de forma que o Poder Público chegue, como lhe compete, à totalidade dos espaços da cidade, diminuindo, com isso, a exclusão social e, consequentemente, a criminalidade dela decorrente e que com frequência vitima estes próprios excluídos. ... com uma cidade mais urbana, planejada, pensada e repensada, bem como portadora de maior diversidade e com menor segregação, a consequência será uma população mais feliz.