quarta-feira, 4 de novembro de 2020

FICHAMENTO: A República - Platão (Coleção Os Pensadores - Nova Cultural)

 pg. 27

Sócrates para Tarsímaco - ... "não estou convencido e não creio que a injustiça seja mais vantajosa do que a justiça,..."

"... todo governo enquanto governo, objetiva unicamente o maior bem dos indivíduos que governa e dos quais é responsável, quer se trate da população de uma cidade, quer de um particular. Mas tu crês que os governantes das cidades, os que governam realmente, o fazem com prazer?

Tarsímaco - "Se creio? Por Zeus, tenho certeza!"

Sócrates - "... Não notaste que ninguém concorda em exercer os outros cargos por eles mesmos, que, ao contrário, se exige uma retribuição, porque não é ao próprio que o seu exercício aproveita, mas aos governados?"

pg. 30

Sócrates - "... os homens de bem não querem governar nem pelas riquezas nem pela honra; porque não querem ser considerados mercenários, exigindo abertamente o salário correspondente ä sua função, nem ladrões, tirando dessa função lucros secretos;"..."o maior castigo consiste em ser governado por alguém ainda pior do que nós, quando não queremos ser nós a governar; é com este receio que me parecem agir, quando governam, as pessoas honradas, e então assumem o poder não como um bem a ser usufruído, mas como uma tarefa necessária, que não podem confiar a outras melhores que elas nem a iguais. Se surgisse uma cidade de homens bons, é provável que nela se lutasse para fugir do poder, como agora se luta para obtê-lo, e tornar-se-ia evidente que na verdade o governante autêntico não deve visar ao seu próprio interesse, mas ao do governado;

pg. 33

Sócrates - "Resumindo: o justo não prevalece sobre o seu semelhante, mas sobre o seu contrário; o injusto prevalece sobre o seu semelhante e o seu contrário."

pg. 34

Sócrates - "Mas, da mesma forma, não quererá o ignorante prevalecer sobre o conhecedor e o ignorante?"

"Ao passo que o homem mau e ignorante quererá prevalecer sobre o seu semelhante e o seu oposto."

pg. 35

Sócrates - "Logo, o justo é bom e sábio e o injusto, ignorante e mau."

... a justiça é virtude e sabedoria e a injustiça vício e ignorância.

Sócrates - "... o que é a justiça em comparação com a injustiça? foi dito que a injustiça é mais poderosa do que a justiça; mas agora, se a justiça é sabedoria e virtude, conclui-se facilmente, penso eu, que ela é mais poderosa do que a injustiça, visto que a injustiça é ignorância."

pg. 37

Sócrates - "... Acabamos de concluir que os homens justos são mais sábios, melhores e mais poderosos do que os homens injustos, e que estes são incapazes de agir harmonicamente - e, quando dizemos que às vezes levaram a bom termo um assunto em comum, não é, de maneira nenhuma, a verdade, porque uns e outros não seriam poupados se tivessem sido totalmente injustos; por isso, é evidente que existia neles uma certa justiça que os impediu de se prejudicarem mutuamente, na época em que causavam dano às suas vítimas e que lhes permitiu realizar o que realizaram;"

LIVRO II

pg. 43

Glauco - "Os homens afirmam que é bom cometer a injustiça e mau sofrê-la, mas que há mais mal em sofrê-la do que bem em cometê-la. Por isso, quando mutuamente a cometem e a sofrem e experimentam as duas situações, os que não podem evitar um nem escolher o outro julgam útil entender-se para não voltarem a cometer nem a sofrer a injustiça. Daí se originaram as leis e as convenções e considerou-se legítimo e justo o que prescrevia a lei. É esta a origem e a essência da justiça: situa-se entre o maior bem - cometer impunemente a injustiça - e o maior mal - sofrê-la quando se é incapaz de vingança. Entre estes dois extremos, a justiça é apreciada não como um bem em si mesma, mas porque a impotência para cometer a injustiça lhe dá valor. Com efeito, aquele que pode praticar esta última jamais se entenderá com ninguém para se abster de cometê-la ou sofrê-la, porque seria louco. É esta, Sócrates, a natureza da justiça e a sua origem, segundo a opinião comum.

pg. 48

Adimanto - "Para o mal em bandos nos encaminhamos facilmente: o caminho é suave e ele mora perto; mas diante da virtude os deuses colocaram suor e trabalho."

pg. 49

"... o que se deve ser e que caminho se deve seguir para atravessar a vida da melhor maneira possível? É provável que diga a si próprio, com Pindaro: "Escalarei, pela justiça ou por tortuosos ardis, uma muralha mais alta, para aí me consolidar e passar a minha vida?" Conforme aquilo que se diz, se eu for justo sem o parecer, não tirarei disso nenhum proveito, mas sim aborrecimentos e prejuízos evidentes; se eu for injusto, mas gozando de uma reputação de justiça, dirão que levo uma vida divina. Portanto, visto que a aparência, como o demonstram os sábios, violenta a verdade e é senhora da felicidade, para ela devo tender inteiramente.

pg. 50

"não é possível escapar ao olhar dos deuses nem violentá-los." Se eles não existem ou se não se ocupam dos problemas humanos, devemos preocupar-nos em escapar-lhes?

Por que motivo havemos de continuar a preferir a justiça à extrema injustiça, que, se a praticarmos com fingida honestidade, nos permitirá triunfar junto dos deuses e junto dos homens, durante a vida e depois da morte.

54

Sócrates - O que causa o nascimento a uma cidade, penso eu, é a impossibilidade que cada indivíduo tem de se bastar a si mesmo e a necessidade que sente de uma porção de coisas, ou julgas que existe outro motivo para o nascimento de uma cidade?

58

Sócrates - ... é possível que um tal exame nos mostre como a justiça e a injustiça se originam nas cidades.

63

Sócrates - ... o homem, para ser manso com os seus amigos e conhecidos, deve, por natureza, ser filósofo e ávido por aprender?

Sócrates - Sendo assim, filósofo, irascível, ágil e forte será aquele que destinamos a tornar-se um bom guardião da cidade.

Glauco - Perfeitamente.

Sócrates - Tal será, então, o caráter do nosso guerreiro. Mas como educá-lo e instruí-lo? O exame desta questão pode ajudar-nos a descobrir o objeto de todas as nossas pesquisas, isto é, como surgem a justiça e a injustiça numa cidade.

Sócrates - Então, façamos com palavras a educação desses homens.

65

Sócrates - Portanto, parece-me que precisamos começar por vigiar os criadores de fábulas, separar as suas composições boas das más. Em seguida, convenceremos as amas e as mães a contarem aos filhos as que tivermos escolhido e a modelarem-lhes a alma com as suas fábulas muito mais do que o corpo com as suas mãos. Mas a maior parte das que elas contam atualmente devem ser condenadas.

Sócrates - As de Hesíodo, Homero e de outros poetas.  Eles compuseram fábulas mentirosas que foram e continuam sendo contadas aos homens.

Sócrates - O que antes e acima de tudo deve ser condenado, mormente quando a mentira não possui beleza.

Sócrates - Quando os deuses e os heróis são mal representados, como um pintor que pinta objetos sem nenhuma semelhança com os que pretendia representar.

Adimanto - É com razão que se condenam tais coisas.

Sócrates - 

Continua...