Por Ludmilla de Lima / Agência O Globo
RIO - O trânsito caótico do Rio não é só um tormento para quem está ao volante ou dentro dos ônibus, como para quem precisa de socorro e depende do deslocamento rápido do Corpo de Bombeiros. Para driblar os engarrafamentos da cidade, a corporação aumentará de 17 para 47 sua frota de motocicletas no estado até o início de junho, já para a Rio+20, e inovará com a criação de equipes sobre duas rodas para o combate a incêndios e salvamentos. Hoje, os bombeiros motociclistas apenas atuam em atendimentos pré-hospitalares. O tempo médio gasto por esses militares até os locais mais distantes ou de mais difícil acesso é de apenas cinco minutos.
Já com os veículos tradicionais, principalmente nos horários de rush, nem sempre é possível atingir a meta do Corpo de Bombeiros de chegar ao endereço do chamado em até dez minutos.
- Fizemos um teste no horário de rush. Nós saímos do Quartel de Vila Isabel e fomos fazer um atendimento na Tijuca, na Praça Xavier de Brito, no final da tarde de uma quarta-feira. Nós levamos 4 minutos para chegar com as motocicletas, enquanto a nossa ambulância levou 14 minutos. Não foi culpa da ambulância. Fomos muito rápido, somos preparados para sair em menos de um minuto do quartel. Mas há essa dificuldade de vencer o tráfego - conta o coordenador das operações com motocicletas do Corpo de Bombeiros, major Luís Henrique de Carvalho.
O Quartel de Vila Isabel está entre os primeiros que receberão parte das 30 motocicletas modelo Yamaha XT 660, licitadas pelo estado no valor de R$ 30 mil cada. O tráfego próximo à unidade é considerado um dos mais complicados pelo major, autor de todo o projeto de operação, tema de sua monografia no curso de pós-graduação para capitães dos Bombeiros. Os outros quartéis que entraram na lista inicial, com base em estudos feitos pelo major, são o 3º GBM, no Centro de Niterói, o 1º GBM, no Humaitá, e o 17º GBM, em Copacabana. O 14º GBM, em Duque de Caxias, e o 1º GBS, grupamento de busca e salvamento na Barra da Tijuca, terão sua frota de motos reforçada.
Na próxima segunda-feira, uma turma de 20 militares começará um curso de capacitação de 13 semanas para bombeiros motociclistas. Outros 16, do grupo que já trabalha no atendimento pré-hospitalar, já passaram pelas aulas. As equipes são consideradas estratégicas para a realização de atendimentos durante a Rio+20, conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável, de 13 a 22 de junho: como noticiou o GLOBO nesta quinta-feira, ao volume de veículos que circula pelas ruas no Rio (hoje uma frota de cerca de 2,5 milhões na cidade, mais que o dobro do 1,1 milhão de 1992), somarão-se militares em comboios de autoridades, batedores do Exército e seguranças em torno de hotéis, trajetos e locais de eventos.
- Nós estamos nos preparando para grandes problemas no tráfego durante a Rio+20, principalmente nos trajetos dos aeroportos para os hotéis, e dos hotéis para o Riocentro. A corporação estuda meios para lidar com essa dificuldade. E as motocicletas serão muito empregadas nesse período - adianta o major Luís Henrique, acrescentando que os motociclistas poderão ainda ser empregados, se necessário, na escolta de chefes de estado e governo.
Ele diz que um veículo em formato de van, equipado para os três socorros (pré-hospitalar, combate a incêndio e salvamento), também deve ser utilizado nas áreas afetadas pela conferência por causa da sua mobilidade, maior do que a dos caminhões dos bombeiros. A corporação possui hoje cerca de 60 veículos do tipo, chamado de Auto Tático de Emergência (ATE).
Bombeiros motociclistas se deslocarão em trios
As motocicletas, que hoje se deslocam em dupla com profissionais da área de saúde, seguirão a partir de junho em trio para os chamados. Um motociclista será o responsável pelo atendimento pré-hospitalar; outro pelo salvamento, carregando na moto ferramentas como pinças hidráulicas (usadas para cortar ferragens), e o terceiro pelo combate a incêndio, uma novidade no Brasil. O Corpo de Bombeiros testa, desde novembro do ano passado, equipamentos importados, acoplados às motos, especiais para apagar chamas. Os cilindros instalados junto ao veículo armazenam 50 litros de água e de agente gerador de espuma, este na proporção de 3,6%. A mistura é vista como ecologicamente correta pelos bombeiros por não gastar muita água e ser, ao mesmo tempo, eficiente. O equipamento, utilizado em poucos países, como Dinamarca, Grécia e China, ainda será licitado pelo estado.
O major que elaborou o projeto explica que as motocicletas não anulam a necessidade de veículos maiores em situações de emergência.
- O socorro tradicional não deixa de ser necessário. Mas a rápida chegada a um incêndio incipiente pode evitar que ele se torne um mega incêndio. Neste caso, a motocicleta pode ir na frente, ajudando a resolver o problema, enquanto as viaturas tradicionais estarão se deslocando - garante o bombeiro, que dá um exemplo de aplicação prática. - Se um carro pega fogo na Avenida Presidente Vargas às 18h, a viatura grande vai demorar mais a chegar, enquanto a moto levará pouquíssimo tempo.
E o tempo pode ser o fiel de balança na hora de salvar uma vida ou evitar um incêndio de grandes proporções. O sargento Claudio de Souza Pereira acumula uma experiência de sete anos no socorro pré-hospitalar de moto e comprova a diferença, especialmente quando se trata de Centro e Zona Sul.
- Nosso tempo resposta é bem melhor do que numa viatura de grande porte - afirma o sargento, que completa: - Sou mais solicitado para atropelamentos, colisões de veículos e quedas de moto.
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