Reitor da Universidade foi flagrado em plena madrugada de sexta-feira entre os trabalhadores que corriam contra o tempo para finalizar obras do novo campus
João Campos - Da Secretaria de Comunicação da UnB
Enviado por: Renato - UFRRJ
Vinte de abril de 1962, um dia antes da inauguração da UnB, uma hora da manhã. Um homem caminha entre operários, arquitetos e engenheiros que trabalham febrilmente para entregar as obras do campus na data prevista. É Darcy Ribeiro, antropólogo e educador que, aos 39 anos, recebeu do presidente JK a missão de construir um novo conceito de universidade na jovem capital. “Revivemos ali os tempos heróicos do pioneirismo de Brasília”, dizia nota do dia na imprensa local.
Naquela madrugada, Darcy não estava apenas acompanhando os últimos detalhes de sua obra. Também admirava a espécie de mágica que aqueles operários, sob o comando de sua equipe, haviam realizado em 50 dias: entregaram seis prédios prontos para a fundação da Universidade. Entre eles, o bloco central (hoje Faculdade de Educação), dois blocos de residência para professores e alunos, um prédio para a administração e o auditório Dois Candangos, com capacidade para 250 pessoas.
O auditório – que homenageia a dupla de operários que morreu soterrada em 5 de abril de 1962 – ficou pronto apenas 20 minutos antes da cerimônia de 21 de abril. “Juntei-me aos operários para apertar os parafusos das cadeiras que receberiam os convidados para a inauguração. Trabalhávamos com prazos inimagináveis para um padrão normal de obra. Foi o maior desafio da minha vida como profissional”, avalia o engenheiro civil Felix de Almeida, responsável por erguer o auditório em 59 dias.
O embalo dos trabalhos no campus naquela sexta-feira inspirou um jornalista a contar a inusitada situação de uma firma contratada que, no dia 20, enviou os tapetes para o revestimento de uma das salas. Ao procurar o engenheiro para saber onde seria colocada peça, o entregador, espantado com o estado do local, ouviu: “O senhor espera um momento que estamos concluindo a parede”. Naquele lugar, depois de sessenta dias de fincada primeira estaca, alunos teriam aula na segunda-feira seguinte.
Tão grande quanto o empenho dos operários que pouco a pouco davam forma para UnB eram os planos de Darcy para ver a cria se expandir logo em seus primeiros anos de vida. Em declaração à imprensa naquela sexta-feira, o reitor afirmou que a UnB “não funcionará apenas para dentro, para seus alunos”. Durante a noite, o campus abriria as portas para comunidade, com cursos de música – com o maestro Cláudio Santoro – de cinema e um exclusivo sobre os “problemas brasileiros”.
Darcy queria sempre mais para a UnB. Nessa mesma declaração, estampada na página sete da edição do dia do Correio Braziliense, ele afirmava que, em dois anos, a Universidade que abria as portas com 413 alunos matriculados teria dois mil estudantes em suas salas de aula. “Darcy era uma pessoa extraordinariamente rara. Ele começava a conversar e em pouco tempo você concordava com qualquer coisa que ele dissesse, por mais louca que parecesse”, conta o fotógrafo e pioneiro Luiz Humberto.
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