O SUICÍDIO
Contextualização geral do período
Émile Durkheim nasceu em Épinal, cidade situada no
nordeste da França, em 1858. Nesse mesmo ano também nasceram Franz Boas,
antropólogo alemão e Theodore Roosevelt, que foi presidente dos
Estados Unidos de 1901 a 1909.
O século
foi marcado por diversas guerras: Guerras Napoleónicas (1792-1815); Guerra
Mexicano-Americana (1847-1848); Guerra da Crimeia (1854-1856); Guerra
do Pacífico (século XIX) (1879–1884); Guerra
Hispano-Americana (1898); Guerra Grande (1838-1851); Guerras do
ópio (1839-1842), (1856-1860); Guerra de Secessão (1861-1865); Guerra
dos Ducados do Elba (1864); Guerra do Paraguai (1865-1870); Guerra
Austro-prussiana (1866); Guerra franco-prussiana (1870); Primeira
Guerra de Independência Italiana (1848); Segunda Guerra de Independência
Italiana (1859-61); Terceira Guerra de Independência Italiana (1866);
Guerra de independência da Grécia (1821-1831); Comuna de
Paris (1871); Independência da América Espanhola, Revolução de Maio,
Revolução húngara de 1848, Revoluções de 1848, Revolução de 1868, Revoluções de
1830, Revolução liberal do Porto e Dissolução do Xogunato Tokugawa.
Alguns fatos
importantes desse século tiveram
início em 1800, quando a população mundial atingiu o
primeiro bilhão de pessoas e em 1805, quando a Marinha
francesa tentou invadir a Inglaterra, mas foi vencida pela esquadra
inglesa do almirante Nelson, sendo que em 28 de Maio de 1804 Napoleão Bonaparte foi
proclamado imperador da França. Já em 1807: tem início as Invasões
Francesas: quando Napoleão dá ordem a Junot para
entrar na Espanha. Em 29 de Novembro a família real portuguesa sai para
o Brasil na sequência da invasão do país por tropas napoleônicas.
Em 1812 Napoleão invade a Rússia e em 1814 foi promulgada a Constituição
Francesa.
No ano de 1815 Napoleão foi definitivamente derrotado na Batalha
de Waterloo. Sendo que depois desta derrota, abdicou e partiu para o exílio na
Ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul.
Em 1846 Friedrich Engels e Karl
Marx concluem a redação de A Ideologia Alemã. Já em 1848 foi
publicado o Manifesto Comunista por Marx e Engels e,
em Paris, iniciou-se a Revolução de 1848, que foram uma série de
revoluções na Europa central e oriental que eclodiram em
função de regimes governamentais autocráticos, de crises econômicas, de falta
de representação política das classes médias e
do nacionalismo despertado nas minorias da Europa central e oriental,
que abalaram as monarquias da Europa, onde tinham fracassado as tentativas de
reformas políticas e econômicas. Também chamada de Primavera dos Povos, este
conjunto de revoluções, de caráter liberal, democrático e nacionalista, foi
iniciado por membros da burguesia e da nobreza que exigiam
governos constitucionais, e por trabalhadores e camponeses que se rebelaram
contra os excessos e a difusão das práticas capitalistas. A partir
de 1845, a situação política francesa foi profundamente agravada pela
eclosão de uma crise do capitalismo. Essa crise acabaria se estendendo por todo
o continente e estaria na origem das revoluções liberais que abalaram
a Europa Centro-ocidental, no ano de 1848.
A revolução de 1848 irrompeu primeiramente
na França, onde adeptos do sufrágio universal e uma
minoria socialista, sob a liderança de Louis Blanc, conseguiram derrubar
a monarquia de julho e criaram a Segunda República.
No dia 12 de abril de 1861 teve Início
da Guerra Civil Americana, que durou até 1865.
Quanto a
Revolução Industrial: esta alterou
profundamente as condições de vida do trabalhador braçal, provocando profundas
mudanças na economia e na tecnologia, além de gerar um intenso deslocamento da
população rural para as cidades. Criando enormes concentrações urbanas; a
população de Londres cresceu de 800 000 habitantes em 1780 para
mais de 5 milhões em 1880. Os outros dois movimentos que a acompanham são
a Independência dos Estados Unidos e a Revolução
Francesa que, sob influência dos princípios iluministas, assinalam a
transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea.
Com a evolução do processo, no plano das Relações
Internacionais, o século XIX foi marcado pela hegemonia mundial
britânica, um período de acelerado progresso econômico-tecnológico, de expansão
colonialista e das primeiras lutas e conquistas dos trabalhadores.
O século se
caracterizou também por romper definitivamente com a fusão entre História e
literatura.
Leopold von Ranke se
compromete com a história crítica e cética. Se deixa influenciar pelas
correntes filosóficas predominantes do momento, tais como
o liberalismo e o nacionalismo chegando a cair inclusive
no etnocentrismo, racismo e particularmente no eurocentrismo.
As reflexões sobre a sociedade de Saint-Simon produziram as tendências que
modificariam as tendências historiográficas: O Positivismo e
o Materialismo histórico, também influenciado pela dialética hegeliana,
Ambas entendem que o comportamento da história se encontra submetido a leis. A
primeira concebe o desenvolvimento da história como processos ordenados, a
segunda o concebe como resultado de estratos sociais. O Positivismo surgiu como desenvolvimento
sociológico do Iluminismo, das crises social e moral do fim da Idade
Média e do nascimento da sociedade industrial - processos que
tiveram como grande marco a Revolução Francesa (1789-1799). Em linhas
gerais, ele propõe à existência humana valores completamente humanos, afastando
radicalmente a teologia e a metafísica (embora incorporando-as
em uma filosofia da história). Assim, o Positivismo associa uma
interpretação das ciências e uma classificação do conhecimento a uma
ética humana radical, desenvolvida na segunda fase da carreira de
Comte.
As mudanças ocorridas com a revolução industrial não
são apenas de ordem econômica, demográfica e espacial. Atingem os costumes, as
interações sociais e as formas de controle social e é Interessante notar que no
séc XIX há um relacionamento direto entre a medicina com a migração,
superlotação das cidades e as precárias condições de vida da
classe trabalhadora própria da Revolução Industrial. Foi também no
séc XIX, em 1859, que surgiu a teoria da evolução das
espécies de Charles Darwin.
Durante seus estudos Durkheim teve contatos com as
obras de August Comte e Herbert Spencer que o influenciaram
significativamente na tentativa de buscar a cientificidade no estudo
das humanidades. Como já foi dito em aulas anteriores, a tradição francesa
ressaltava a importância da moral como pedra fundamental da justiça e paz
social. Um aspecto fundamental do pensamento social francês do século XIX era a
necessidade de uma moral integradora para complementar a vida econômica e
Durkheim foi um dos herdeiros desse pensamento positivista. Suas principais
obras são: Da divisão do trabalho social, As regras do método sociológico, O
suicídio, Formas elementares da vida religiosa, Educação e sociologia,
Sociologia e filosofia. Ele concluiu que os fatos sociais atingem toda a
sociedade, o que só é possível se admitirmos que a sociedade é um todo
integrado. Se tudo na sociedade está interligado, qualquer alteração afeta toda
a sociedade, o que quer dizer que se algo não vai bem em algum setor da
sociedade, toda ela sentirá o efeito. Partindo deste raciocínio ele desenvolveu
dois dos seus principais conceitos: a Instituição social e Anomia.
Ele deixa bem claro em sua obra o quanto acredita que
essas instituições são valorosas e parte em sua defesa, o que o deixou com uma
certa reputação de conservador, que durante muitos anos causou antipatia a sua
obra. Durkheim acredita que o ser humano necessita se sentir seguro, protegido
e respaldado. Uma sociedade sem regras claras (num conceito do próprio
Durkheim, "em estado de anomia"), sem valores, sem limites leva o ser
humano ao desespero. Preocupado com esse desespero, Durkheim se dedicou ao
estudo da criminalidade, do suicídio e da religião. Ele se
preocupava, também, com fatores psicológicos, antes mesmo da existência da
Psicologia. Seus estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da obra de
outro grande homem: Sigmund Freud, que em 1896 viria a apresentar a Teoria
Psicoanalítica.
Neste trabalho tratou-se mais especificamente
sobre "As regras do método sociológico" e "O suicídio".
O SUICÍDIO
O suicídio foi escrito por
Durkheim em 1897, logo após ter escrito As regras do método sociológico. Um ano
antes, Freud escrevera a Teoria Psicanalítica. No trabalho sobre O suicídio Durkheim
trata de um assunto considerado psicológico abordando-o como fenômeno social,
estudando as conexões entre os indivíduos e a sociedade.
Logo no início de seu trabalho,
Durkheim, argumenta que a investigação científica só pode atingir o seu objetivo
se se referir a fatos comparáveis e tem mais probabilidades de êxito se esta
puder reunir o maior número possível de dados que puderem ser comparados. Para
tanto, o investigador terá que construir os grupos que quer estudar,
conferindo-lhes a homogeneidade e especificidade necessárias para poderem ser
trabalhadas cientificamente.
A partir disso, ele procurará ver
se, entre os diferentes tipos de mortes, existem algumas que têm em comum
características suficientemente objetivas para poderem ser reconhecidas como
“especiais” ou “diferentes” das encontradas em outros tipos, mas ao mesmo
tempo, próximas dos que são geralmente qualificadas como suicídio, no sentido
básico da palavra. Por exemplo, um homem que conscientemente se expõem a outro,
sem saber o desfecho da situação e se esta lhe traz ou não a morte, não é, sem
dúvida, um suicida (a meu ver o mesmo ocorre com soldados que vão para a
guerra).
O que importa para Durkheim nessa
investigação não é exprimir com um mínimo de precisão uma noção de suicídio,
resultante de uma média de opiniões, mas constituir uma categoria de objetos
que ao mesmo tempo que possam ser etiquetados sob o nome de suicídio,
correspondam também a uma natureza determinada de coisas.
Assim, entre as diversas espécies
de mortes, há as que apresentam um traço particular: o fato de serem obra da
própria vítima, de resultarem de um ato de que o paciente é o autor, e, por
outro lado, acontece que essa mesma característica se encontra na própria base
da idéia que normalmente se tem de suicídio.
A natureza dos atos que produzem
esse resultado, para Durkheim, não é muito importante. Para tanto, ele
apresenta uma primeira fórmula, embora reconheça que seja uma definição
incompleta, onde o suicídio é toda a morte que resulta mediata ou imediatamente
de um ato positivo ou negativo, realizado pela própria vítima.
Algumas variedades de mortes voluntárias:
- O alucinado que se precipita de uma janela alta,
porque julga perto do solo e a do homem são de espírito que atenta contra
a vida tendo consciência disso, caso do iconoclasta que para conquistar as
palmas do martírio comete um crime que sabe que terá que pagar com a
própria vida;
- O soldado que corre para uma morte certa para
salvar o seu pelotão mas que de fato, não quer perecer.
Durkheim questiona que se as
causas da morte estão situadas fora de nós muito mais do que em nós e só nos
atingem se nos aventurarmos a entrar na sua esfera de ação, então só haverá
suicídio se o ato de que a morte resulta tiver sido realizado pela vítima tendo
em vista esse resultado e que só se mata verdadeiramente aquele que se quis
matar.
Particularmente penso que sim,
mas para ele, se assim fosse, corresponderia a definir o suicídio através de
uma característica que apesar do interesse e da importância que pudesse ter,
possuiria a desvantagem de não ser facilmente reconhecível porque é difícil de
observar. Pois ele não teria como saber o que determinou o agente a tomar sua
resolução e se quando o fez ele desejava realmente por fim a sua vida.
Para Durkheim, a intenção é algo
muito íntimo para poder ser atingida e entendida. Para ele, um ato não pode ser
definido pelo fim que o agente prossegue, pois um mesmo sistema de movimentos,
sem mudar de natureza, pode servir muitos fins diferentes.
Para ele, quer a morte seja aceita
como uma condição lamentável mas inevitável, quer seja expressão desejada e
procurada em si mesma, o sujeito renuncia à sua existência e as diferentes
expressões desta renúncia não são senão modalidades de uma mesma classe. Há
entre elas muitas semelhanças fundamentais para que não sejam reunidas sob a
mesma expressão genérica.
A meu ver ele se contradiz em alguns pontos, por exemplo ao dizer
que “sem dúvida, o suicídio é vulgarmente e antes de mais o ato de desespero de
um indivíduo a quem a vida já não interessa.” E logo após diz que : “quando a
dedicação por outrem vai até ao sacrifício consciente da vida, trata-se
cientificamente de um suicídio”. Ao se sacrificar o indivíduo está abrindo mão
de algo que lhe é muito caro, muito importante, daí a palavra sacrifício, quer
dizer que sua vida lhe interessa sim, no entanto ele considera algo ainda mais
valioso do que a própria vida, o que o leva ao sacrifício de tirar a própria
vida.
Mas ele acreditava que poderia
demonstrar o quanto um ato individual é o resultado do meio social que o cerca.
Ele fala superficialmente sobre o
suicídio entre animais e que não há como distingui-lo nesse meio, pois não há
como reconhecer a vontade do animal de tirar a própria vida de modo consciente.
Nesse ponto Durkheim levanta a seguinte questão: Mas tendo o fato
sido definido, visto que o suicídio é um ato do indivíduo e que apenas afeta o
indivíduo, ele interessará ao sociólogo?
Ele explora as diferentes taxas
de suicídio entre protestantes, católicos e judeus, explicando que o
forte controle social entre os católicos resultava em menores índices de
suicídio. Apresentou também índices de suicídios entre homens e mulheres. Verificou ainda que o suicídio ocorria
menos entre os indivíduos casados que entre solteiros situação que, segundo
ele, se explicaria através da noção de integração familiar. Neste trabalho,
notou ainda que a taxa de suicídios diminuía em períodos de grandes
acontecimentos políticos, em que aumentava a coesão sócia-política em torno da
idéia de nacionalidade. Nesta obra ele fez uso de dados estatísticos e
analisou diferentes meios e tipos individuais para embasar suas teses, criou e
desenvolveu conceitos como '"fato social", "anomia",
"solidariedade", "coerção", entre outros.
Durkheim trata o suicídio de
forma não psicológica, mas de forma social, buscando padrões empíricos em
diversas sociedades e seguindo um método comparativo. É daí que Durkheim
consegue definir os 4 tipos de suicídio
do ponto de vista sociológico (egoísta, altruísta , anômico e fatalista - e
suas combinações). O suicídio egoísta -
que resulta de uma individualização
excessiva e cujo grau de integração do indivíduo na sociedade não se
apresenta suficientemente forte; o suicídio
altruísta - que ao contrário resulta de uma individualização insuficiente
e o suicídio anômico - que se
relaciona com uma situação de desregramento, típica dos períodos de crise,
que impede o indivíduo de encontrar uma solução bem definida para os seus
problemas, situação que favorece um sucessivo acumular de fracassos e decepções
propícias ao suicídio. sociedades tradicionais onde a solidariedade mecânica
prevalece. O último tipo de suicídio é o suicídio fatalista, que não foi muito
estudado por ele talvez por considera-lo de pouca relevância.
Ele relacionou sua explicação sobre
o suicídio à idéia de solidariedade social e a dois tipos de laços dentro da
sociedade - a integração social e a regulação social. Concluiu que o suicídio
variava na razão inversa do grau de integração da sociedade religiosa, familiar
e política.
Conclusão
Durkheim parece estar muito certo quanto à
confiabilidade dos dados que utiliza, mas eles serem oficiais não implica, que
sejam verídicos e caso não sejam, podem desconstruir sua teoria quase por
completo. Por exemplo, sabe-se que naquele período muitos dos pacientes ditos
“loucos”, na verdade eram internados por suas famílias por motivos os mais
diversos e que nem sempre tinham fundamento de fato, como no caso das mulheres,
que muitas vezes eram internadas por seus maridos ou pais.
Também é interessante a forma como ele utiliza
de estatísticas, mapas e comparações, porque dão ao trabalho mais legitimidade.
Entretanto, ele faz muitas deduções para sustentar sua tese, mas talvez seja um
recurso utilizado de maneira um tanto incoerente e sem fundamento em alguns
casos. Um exemplo se dá em sua explicação para fato de que as mulheres
divorciadas se matam menos que os homens se dever a necessidades sexuais de
caráter menos mental e afirmar que a vida mental da mulher é menos desenvolvida
que a dos homens.
Por: Wesley Marques
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